terça-feira, 27 de outubro de 2009

“Nas obras de Karin Paiva, estão presentes a poética e a espiritualidade, bem como a indizível magia da sua criação. Sua pintura rememora problemas fundamentais, vigentes desde o passado mais remoto, de quando o homem, em sua relação com o mundo, estabeleceu associações entre temores e mitos. Esta evocação nos fala das desarmonias enraizadas da natureza humana, expressas nestas obras como ruptura e desmistificação, conferindo uma representação sutil ao grave conteúdo. A presença obsessiva das figuras ( cobras e lagartos) não é gratuita, posto que esta obsessão tem origens e raízes intensas, capazes de gerar os mitos. As composições, que se aproximam dos mandalas, são formas ordenadas, geométricas, de cores vibrantes e de refinada técnica, exprimindo vitalidade, tensão e um moderado erotismo, que certamente ocultam a sua crítica inicial sobre a origem dos traumas e dos medos da humanidade. Na solidão dessas obras, a solidão do homem manifesta-se através da sua ausência. Não a solidão que resulta do consentimento e da consciência, mas a da ausência angustiante, terrível: a da fuga.

(Paulo Ayres – Abril de 1994)

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